segunda-feira, 3 de março de 2008

Nietzsche

Como deve ser o ser?


"Ponderemos ainda, por fim, que ingenuidade é em geral dizer: "assim-e-assim é o homem!". A efetividade nos mostra uma embevecedora riqueza de tipos, a exuberância de um perdulário jogo e mudança de formas: e algum pobre moralista que fica em seu canto vem dizer a isso: "Não! O homem deveria ser de outro modo!"?...
...quando o moralista se dirige meramente ao indivíduo e lhe diz: "assim e assim tu deverias ser!", ele não deixa de cair no ridículo. O indivíduo, visto de frente ou de costas, é um pedaço de fado, uma lei a mais, uma necessidade a mais para tudo o que vem e será. A ele dizer: "Modifica-te!" significa desejar que tudo se modifique, até mesmo o que ficou para trás... E efetivamente houve moralistas conseqüentes; eles queriam o homem de outro modo, ou seja, virtuoso, eles o queriam à sua imagem... para isso negaram o mundo! Tolice nada pequena! Espécie nada modesta de imodéstia! ...A moral, na medida em que condena em si, e não a partir de referências, deferências, preferências da vida, é um erro específico, com que não se deve ter nenhuma compaixão, uma idiossincrasia de degenerados, que provocou danos incontáveis!... Nós outros, nós, imoralistas, temos, ao inverso, nosso coração escancarado para toda espécie de entender, compreender, chamar de bom. Não negamos facilmente, procuramos a nossa honra em ser afirmativos." Friedrich Nietzsche, em Crepúsculo dos Ídolos, fragmento de Moral como Contranatureza.

Nenhum comentário: